ARQBH

Fotografia de arquitetura e registro histórico de BH: das fotos de papel ao Instagram


Este artigo foi publicado originalmente no GUAJA. O ARQBH é um guia de arquitetura de Belo Horizonte. Tem como objetivo contribuir para a preservação e divulgação da arquitetura produzida em BH. Foi criado em 2005 como forma de organizar e divulgar publicamente um grande arquivo de fotos digitais. É mantido por Marcelo Palhares Santiago (arquiteto da Horizontes Arquitetura) e Flávia Gamallo Gondim Santiago (arquiteta da COGA Arquitetura), arquitetos que decidiram unir seus dons e paixões pela fotografia e arquitetura em favor da memória e história de Belo Horizonte. Em 2015 o trabalho recebeu o Prêmio Gentileza Urbana, concedido pelo IAB-MG.


O ARQBH é uma coleção de fotos de arquitetura de Belo Horizonte, um álbum digital de figurinhas de edifícios, organizadas em um site na internet. Reúne fotos das obras mais importantes que caracterizam a paisagem construída de BH, desde o plano urbano moderno criado pelo Engenheiro Aarão Reis, passando pelas residências desenhadas pela Comissão Construtora da Nova Capital, pela arquitetura neoclássica do inicio do 20, a exuberante arquitetura Art-Decó, a arquitetura modernista, o revolucionário pós-modernismo mineiro, culminando com a diversidade da arquitetura contemporânea (as fotos, ou figurinhas, estão disponíveis no arqbh.com.br, no instagram e no facebook).

O projeto é mantido pelos arquitetos Marcelo Palhares Santiago e Flávia Gamallo Gondim Santiago que decidiram unir suas paixões pela fotografia e arquitetura em favor da história e memória de Belo Horizonte. Nasceu meio sem querer, resultado de duas revoluções tecnológicas do início do século XXI: a popularização das câmeras fotográficas digitais e o surgimento dos blogs.



ANOTAÇÕES DE AULAS
O exercício de fotografar arquitetura começou na faculdade, com registros despretensiosos de prédios, casas, igrejas, etc. nas aulas e caminhadas pela cidade promovidas pelos professores. Naquela época, as fotos eram feitas com câmeras reflex de filme. A fotografia funcionava como se fossem anotações de aula. A imagem revelada em papel ativava a memória e contribuía para relembrar as explicações das aulas.

Durante as aulas havia a preocupação de poupar o rolo de filme. O custo de revelar era alto e a quantidade de fotos por prédio limitada, de forma a evitar que o filme acabasse antes do fim do passeio. Depois de reveladas em papel, as fotos eram apreciadas, somente pelos fotógrafos, e acabavam em um álbum, jogado em alguma gaveta. Eventualmente voltavam a ser consultadas para pesquisas ou trabalhos de faculdade.

Em 2003 as câmeras de filme foram substituídas pelas digitais compactas. Os passeios fotográficos passaram a ser solitários, caminhadas de pesquisa e experiência da cidade.

As possibilidades de rever as fotos instantaneamente e de produção de várias imagens de um mesmo edifício, ampliou o tempo de cada passeio e, consequentemente, a quantidade de edifícios visitados e registrados no mesmo dia. Ao invés de uma ou duas fotos por prédio, registravam-se dezenas de fotos: fotos gerais, detalhes, elementos construtivos, portas, janelas, varandas, texturas, composições geométricas, etc.

A finalidade das fotos digitais continuava a mesma daquelas reveladas em papel. As fotos acumuladas eram ‘jogadas’ em pastas virtuais no computador e consultadas em pesquisas ocasionais. Mas, o aumento quase exponencial da quantidade de fotos trouxe um problema novo. O grande volume de dados dificultou o processo de consulta, ficando cada vez mais difícil encontrar uma foto específica.

BANCO DE DADOS
A solução óbvia seria a organização do arquivo em um sistema de banco de dados. Mas os blogs surgiram como alternativa mais atraente. A interface e usabilidade dos blogs se mostrou mais amigável do que os complexos softwares de banco de dados, além de cumprirem as funções de organização das fotos por filtros e permitir acesso livre ao público.

Paralelamente, ocorria um debate online, em um grupo do Orkut, com alguns arquitetos sugerindo fazer uma lista crítica dos piores prédios de BH. Como contraponto, surgiu a proposta da educação pelo bom exemplo, uma lista com as melhores referências da arquitetura de Belo Horizonte.

A ideia do banco de imagens organizado, online, se juntou com a ideia da lista de bons exemplos e assim nasceu o ARQBH.

NO AR
O ARQBH entrou no ar no em 2005. As primeiras postagens foram da Residência Guy Geo e Edifício Ouro Preto, ambos projetos do arquiteto William Ramos Abdalla, seguidos da Revitalização de um dos quarteirões fechados da Praça Sete, projeto dos arquitetos Álvaro Hardy (Veveco) e Mariza Machado Coelho. Passados 13 anos, o site mantém a estrutura de blog, mas evoluiu em termos de navegação e programação, resultando numa interface mais moderna.

As câmeras compactas foram substituídas por câmeras reflex digitais e objetivas profissionais. A evolução na qualidade das imagens, em função destes novos equipamentos, do aprimoramento das técnicas fotográficas e dos investimentos em pesquisa, é constante.


NÚMEROS
Hoje, o ARQBH já publicou mais de 1.000 fotos, com informações sobre quase 350 edifícios de Belo Horizonte, localizados em 41 bairros. O trabalho de 240 arquitetos foi divulgado.
Desde a criação, o site já foi acessado por mais de 250 mil pessoas, vindas de 107 países diferentes. A maior parte dos visitantes, depois dos brasileiros que lideram a lista, vem dos Estados Unidos, Alemanha, Rússia, França, Israel, China, Japão, Itália e Portugal.  Mas muitas visitas vêm de países distantes e diversos como Vietnã, Qatar, Mauritânia e Timor Leste.

CURIOSIDADES
O campeão de visitas no site é o Edifício Maletta, projetado pelo Arquiteto Oswaldo Nery. Outros edifícios muito visitados, são Officenter (arquitetos Éolo Maia e Jô Vasconcellos), Residência João Lima de Pádua (arquiteto Oscar Niemeyer), Sulacap Sulamérica (arquiteto Roberto Capello) e Edifício Tinguá (arquiteto Éolo Maia).
No Instagram, as fotos com mais envolvimento são as do Edifício Antônio Marinho Saraiva (arquiteto Carlos Alberto Viotti), Edifício Villagio (arquitetos Alberto Dávila e Júlio Teixeira), Palacete Jeha (arquiteto Zimmer Wezphal), Edifício Castelo 2770 (arquiteto Joel Campolina) e Edifício Lourival Gonçalves de Oliveira (arquiteto Carlos Alberto Viotti).

ARQUIVO EM CRESCIMENTO
As mídias sociais e aplicativos, contribuem para o acúmulo de informações visuais em uma velocidade alucinante. O ARQBH segue em crescimento constante, mas com aspiração de agregar conteúdo e informação à profusão de imagens virtuais, tornando o processo de consumir imagens mais educativo e ajudando a valorizar e manter viva a história da cidade.

Utiliza a internet como ferramenta de divulgação e valorização dos arquitetos e da arquitetura produzida em Belo Horizonte. Mantém viva a história, perpetuando imagens do presente e passado, possibilitando que a memória da arquitetura de Belo Horizonte não se perca para as gerações futuras.

ANDAR A PÉ
O ARQBH se estabelece como importante ferramenta de pesquisa, útil para arquitetos, estudantes, pesquisadores, entusiastas de arquitetura, viajantes e qualquer pessoa interessada na história de Belo Horizonte.

A fotografia certifica fragmentos da historia da cidade e ajuda a fixar os componentes da paisagem urbana no imaginário dos usuários. Um convite ao retorno às ruas, uma exploração urbana de reconhecimento das importantes edificações e espaços da nossa cidade.

VAMOS CAMINHAR?
AS ARQUITETURAS DE BELO HORIZONTE – “O Cardápio dos estilos do século XX é grande e variado. Em um século tão veloz, onde tecnologias, influências e vanguardas artísticas aconteceram tão rápido que muitas delas não tiveram sequer tempo de amadurecer e continuam como passado inconcluso de um grande futuro que a mudança não deixou ocorrer, assistimos na pedra imóvel a mobilidade do tempo, a fugacidade das certezas e de modos de viver. Esse foi o século de Belo Horizonte, a cidade que em sintonia com a mudança, renovou seus prédios com a voracidade mutante de um eterno adolescente, destruindo-se a si própria – em alguns lugares a cada vinte anos – certa de que deveria perseguir a modernidade à custa de seu próprio corpo” – Flávio de Lemos Carsalade, em “Guia de Bens Tombados de Belo Horizonte” (Maria Angela Reis de Castro, Editora 2006)

Nos próximos artigos contaremos um pouco da história dos 121 anos de BH, sintetizada por alguns de seus prédios mais importantes registrados no ARQBH.

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